Habib foi uma pergunta, eu também não sei a resposta. As-salāmu ʿalaykum. 𖦹
ٱلسَّلَامُ عَلَيْكُمْ
☪️ empatia تعاطف taeatuf
Tenho memórias afetivas muito claras de quando acompanhava minha mãe nas feiras multiétnicas que aconteciam ocasionalmente em galpões e tendas por Vitória. Lembro de diversos estandes de países que fugiam da realidade que eu conhecia ao meu redor. O considerado normal era o que vinha dos Estados Unidos, e o exótico do Oriente. Como uma criança, era muito conflitante a imagem que estava sendo formada em minha cabeça do que seriam as pessoas de lá.
Minha parte favorita era passar pelos comerciantes tocando músicas tradicionais, uma percursão que descobri se chamar derbak. Eles transbordavam aquela energia que não se encaixava com o que era mostrado na mídia. Enquanto pessoalmente eu via homens e mulheres felizes e completamente normais, vivendo e compartilhando uma cultura diferente da minha, na tv eu assistia a formação da imagem ocidental do que passaria a ser o oriente. Orientalismo.
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Saint Levant ft. MC Abdul - Deira (Live Session)
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Anos depois, adulto e morando em Portugal, estudei em uma faculdade que recebia intercambistas do mundo todo. Em uma dessas idas e vindas, dividimos um táxi com uma estudante de design da Síria. Na minha limitada cabecinha da época, não mais ou menos limitada do que a de agora será daqui a alguns anos, a única bagagem que tinha sobre esse país eram imagens horríveis de cidades destruidas pela guerra. Com a cara murcha de constrangimento e desconforto a única coisa que consegui pensar em responder depois que ela contou de onde vinha foi - E como é ser designer no seu país?
Definitivamente ninguém está preparado para lidar com uma situação dessa, pois elas não deveriam sequer existir.
Outra experiência que passei em Portugal, foi a de dividir o quarto com Eyüp, um rapaz mulçumano da Turquia. Em um dos jantares com meus amigos mais próximos fofoquei comentei com Can, mulçumano não praticante, que meu roommate tomava banho na pia da área comum e eu achava aquilo simplesmente incabível. E mais uma vez cometi um crime contra toda uma gente. Can me explicou, rindo felizmente, que Eyüp fazia o ritual chamado ablução, que consiste em puríficar o seu corpo para a oração, limpando o corpo e o espírito para se encontrar com Deus.
O ponto é - nós não conhecemos eles, não entendemos a cultura, a história, os conflitos. Tudo é tão distante e intangível que se torna compreensivo a pergunta Por que eu deveria me importar? Por que ajudar eles e não qualquer outro?
A reposta não poderia ser mais simples. Porque empatia é a capacidade de se colocar no lugar do outro, sem mesmo nunca ter vivido algo parecido. Ajude quem puder e como puder. É o que tentarei fazer aqui, trazendo informações, experiências, conteúdos e sugestões
☪️ glossário معجم muejam
Para acabar com a dúvida e sair dos achismos.
Islã - Nome da religião praticada pelos Mulçumanos. Para entendimento, é o relativo ao Cristianismo para os Cristões. Significa Submissão a Allah.
Islamismo - Também se refere a religião mas o sufixo ismo vem carregado de estigmas, podendo se referir como uma ideologia política. Pode se dizer desrespeitoso e ocidentalizado.
Mulçumano - Quem segue o islã.
Hijab - Orientado pelo Alcorão, é o véu que as mulheres usam para cobrir a cabeça. Ele pode ser libertador ou opressor dependendo de quem está decidindo por ele: a mulher, ou outra pessoa/sistema no lugar dela.
Burca - Vestimento que cobre todo o corpo da mulher. Seu uso está mais associado às mulheres do Afeganistão.
Árabe - Grupo étnico-linguístico. No norte da África inclui: Egito, Líbia, Tunísia, Argélia, Marrocos, Mauritânia, Sudão, Sudão do Sul, Comores, Saara Ocidental. No Oriente Médio: Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos, Catar, Bahrein, Kuwait, Omã, Iémen, Jordânia, Líbano, Síria, Iraque, Palestina.
Orientalismo - Instituição presente no imaginário ocidental, associação com o exotismo nas relações sociais, a islamofobia e o processo “civilizador”.
"A sociedade contemporânea de árabes e muçulmanos sofreu um ataque tão massivo, tão calculadamente agressivo em relação ao seu atraso, sua falta de democracia e sua supressão dos direitos das mulheres, que simplesmente esquecemos que noções como modernidade, Iluminismo e democracia não são de modo algum conceitos simples e consensuais que se encontram ou não como ovos de Páscoa na sala de casa." - Edward Said
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☪️ conteúdo محتوى muhtawa
🕋 Quero estar acordado quando morrer [conteúdo sensível]
Imagine-se indo a trabalho visitar sua cidade natal, a cerca de uma a duas horas de distância da cidade onde mora com sua família. Em uma manhã você decide dar um mergulho no mar, onde tudo parece perfeitamente normal, até que mísseis invadem mar e terra.
Atef Abu Saif, escreve em seu livro um díario de 85 dias do atual genocídio na faixa de Gaza, iniciado em 7 de Outubro de 2023. O conflito já dura 1 ano, 6 meses. E é apenas um dos conflitos desde o erro de Israel em 1948 - sua criação.
E quando você descobre que outra pessoa morreu, significa que você, ao contrário, ainda está vivo. Os mortos não ouvem notícias. Saber da morte dos outros significa que você não morreu.
No desevolver do livro o autor descreve detalhadamente tudo o que está acontecendo ao seu redor, cada conhecido morto, cada cena traumática dos horrores que Israel comete. Em sua mente nos perdemos juntos em relação ao tempo, não existe dia do mês, dia da semana ou feriado, os dias são contados em relação a quando começou o conflito.
Não existe nenhum resquício de humanidade por Israel. Escolas são bombardeadas, hospitais são bombardeados, filas de padarias lotadas de crianças também são bombardeadas. As famílias se dividem em diversas casas ou escombros diferente, pois se um for bombardeado a outra parte da família seguirá resistindo. Diante dessa trajédia, preso em Gaza, o autor continua a registrar cada momento.
Esse é um livro que te faz se sentir em um momento de despertar. Eu sabia o que estava acontecendo em Gaza, mas agora eu realmente sei o que está acontecendo. Não consigo simplesmente ignorar. A leitura é forte, é agoniante. Você quer que termine, que o conflito termine. No documentário No other land (2024) assistimos o seguinte diálogo entre um jornalista israelense aliado e um palestino:
- I need to write something about the protest today, i have to write more. The article i wrote didnt get many views
- Okay, its always like that, you are… i feel you’re a little anxious.
- What?
- You want everything to happen quickly. As if you can solve everything in 10 days and come back home. This has been going on for decades.
🕌 No other land [o último conteúdo sensível]
Escrever e fotografar em tempos de guerra são atos de resistência, atos de fé, atos que confirmam a crença que um dia - dia este que talvez os escritores, jornalistas e fotógrafos não estejam vivos para ver - as palavras e imagens poderão evocar piedade, compreensão e indignação, e proporcionar sabedoria. - Atef Abu Saif em Quero estar acordado quando morrer.
Não importa o que aconteça no mundo, o quanto seja brutal ou distópico, nem tudo está perdido se existem pessoas arriscando a vida para documentar os fatos. - Tomasz Jedrowski em Nadando no escuro
Vencedor do Oscar 2025 de melhor documentário, teve seu codiretor espancado e sequestrado por colonos Israelenses.
No documentário assistimos Basel Adra, em sua cidade Masafer Yatta. Aqui a problématica não vem em formato de mísseis, mas na atuação de tanques, soldados e documentos de despejo. A presença dos colonos também e registrada e denunciada, mostrando a atuação intensa também da própria população Israelense na eliminação dos palestinos. Na cena, vemos israelenses em confronto inicialmente com pedras e posteriormente com armas pesadas, financiadas por alguém, fazendo igual ou pior às forças armadas do exército.
Israel aos poucos vai tirando recursos básicos para a sobrevivência dessas familias em seus vilarejos. Um dia cortam a luz, outro dia proibem carros, a medida que a situação vai escalando começam a voltar com tratores, demolindo escolas, casas e atirando em quem tente impedir. Ativistas são constantementes ameaçados, perseguidos e levados.
Em algumas cenas, assim como no livro de Atef, é interessante ver como as pessoas se adequam a situação que estão vivendo. As famílias ao terem suas casas demolidas, se abrigam em cavernas, continuam suas vidas, protestam por suas mortes, conversam, e riem de situações comicas/dramáticas. Em uma noite que ameçam sequestrarem Basel, todos acordam aflitos e se mobilizam para tira-lo dalí. Na manhã seguinte comentam para um adolescente da família
When i try to wake you, i hear “Mommy i can’t im too tired” But for the army? You wake up fast!
🪕 Zeyne
Meu deus esse texto vem me deixado triste…
Encerrada a parte da tristeza, vamos falar de arte. Zeyne é uma artista de 27 anos nascida na Jordânia, filha de pais refugiados Palestinos. Sua musicalidade inclui influências tanto Palestinas quanto da Jordânia, misturando r&b, soul e ritmos árabes. É uma ótima recomendação para quem quiser começar a escutar sons que fogem do meio ocidental.
Em sua música حرر عقلك ela diz
Who said I have to change my appearance, my voice, my language and my skin in order for me to be a part of tomorrow?
Who said that the truth I see in your eyes will not spawn a civilisation?
We are the civilisation
My love, your past is my future
And I will not take of my Thoub before they take off my skin
Record that I am an arab and I know my origin
📹 Mike Okay
Mike Okay é um youtuber Britânico daqueles com o sotaque bem carregado que chega até ser a divertido ouvi-lo falar. Tendo viagens como o foco dos seus vídeos, ele nos presenteia visitando de forma bem roots lugares não tão convencionais. Em seu canal é possível assistir vlogs em países como Coreia do Norte e Iraque, e também ver a realidade de locais muito isolados no interior de países como a China e o Vietnam ou até em campos de refugiados. E isso tudo fazendo a maior parte do percurso de carona, daquelas com dedinho na rodovia.
Nesse momento não vou discorrer das problemáticas sobre esse tipo de turismo, por que o texto não é sobre isso, e mesmo que nesse caso o Mike sempre se esforce para trazer informações históricas e de contexto, acredito que possa sim gerar algum problema para os locais. E o preço de algumas doações levadas pelo próprio gringo não valha os possíveis futuros problemas.
Escolhi recomendar esses vídeos por que além de serem ótimos pra treinar seu inglês, já que a maior parte do tempo ele está tentando falar com pessoas que não falam inglês, os vídeos dele são muuuuito de esquentar o coração e te dar uma dose de esperança na humanidade. Em absolutamente todos os vídeos Mike cruza caminho com pessoas maravilhosas, sempre dispostas a ajuda-lo sem ele sequer pedir por ajuda, elas oferecem dinheiro, o levam pra almoçar, dão carona e moradia e isso tudo apenas por que é o certo a se fazer.
No vídeo linkado me peguei bem emocionado em uma cena [11:32] onde ele se encontra em uma praça no Iraque, um lugar que a primeira mão nosso imaginário já criaria um cenário de destruição, pessoas machistas e homofobicas dispostas a te expulsar de lá na primeira oportunidade. Claro, isso pode acontecer lá como em qualquer outro lugar que tenha esses traços herdados por religiões mais conservadoras e pelo colonialismo. Mas aqui vemos uma famílias reunída passando um final de tarde, calmo, conversando, compartilhando histórias e piadas, se alimentando, com as crianças brincando e correndo. Um cenário que imagino que um dia poderia, deverá, será a Palestina.

☪️ como ajudar كيفية المساعدة kayfiat almusaeada
Unicef - Com planos de doação mensal você pode ajudar crianças em locais de vulnerabilidade com educação, saúde, proteção e alimentação. (eu ajudo esse aqui :)
Acnur - Também com um plano mensal ou individual você possíbilita que famílias de refugiados possam ter uma vida segura e digna.
Ações, Jornalistas, Doações e conteúdos - Nesse site você terá um compilado de links e informações úteis da uma olhada
“Tanta criança passando necessitade no brasil, pq ajudar essas de tão longe?”
- Eu não falei pra você não ajudar as outras crianças ou outras causas, sinta-se a vontade de ajudar quem você quiser, como você conseguir e quando você conseguir. Lembrando que as agências ligadas a ONU que citei, não atuam exclusivamente com uma região ou um conflito específico. Você doa para instituição que repassa para todos os países participantes. É tipo doar sangue sabe? Você doa pro banco de sangue e não pra uma pessoa.
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وَعَلَيْكُم ٱلسَّلَامُ